Planejamento financeiro familiar: saiba como fazer
por: Claudia Midori
Como investir
15 de Maio de 2020
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Momentos de crise e recessão, como o que estamos vivendo no Brasil, trazem turbulências para grande parte dos lares. Não é para menos: em contextos assim, a economia desaquecida afeta o desempenho dos negócios e traz o fantasma do desemprego. Para quem precisa garantir o sustento da família, a situação é ainda mais temível.
Entretanto, é possível atravessar esses períodos ruins de maneira mais tranquila e confortável. A chave para isso é fazer um planejamento financeiro familiar, a fim de garantir que as despesas estejam sempre sob controle. Além disso, essa prática serve para indicar caminhos que, em longo prazo, darão mais segurança financeira para você e seus entes queridos.
Neste texto, falaremos sobre a importância desse planejamento, como determinar um padrão de vida, formas de se livrar das dívidas existentes que estão tirando o seu sono, métodos para definir um orçamento doméstico e boas ideias para usar o crédito de forma consciente e responsável.
Ficou interessado? Continue lendo, o caminho rumo ao equilíbrio financeiro e ao bem-estar da sua família começa aqui!
A importância do planejamento financeiro familiar
A melhor forma de dar estabilidade para sua família é fazer um planejamento financeiro familiar. Com ele, você consegue:
- saber de onde vem e para onde vai o dinheiro que todos ganham;
- prever gastos e cortar despesas desnecessárias;
- criar um fundo de emergência para ser usado em imprevistos;
- identificar oportunidades de aumentar a renda;
- investir, seja para gerar novas fontes de renda ou para garantir um futuro melhor para seus filhos.
Esse tipo de planejamento é um pouco mais complexo do que o orçamento pessoal, pois é necessário agrupar rendas e gastos de todas as fontes de receitas (salários de todos que trabalham, rendimentos de investimentos etc.) e todas as fontes de gastos (que vão de compras no mercado até grandes financiamentos, passando por mensalidades de escola e contas de água, luz, telefone, TV a cabo etc.).
A seguir, listaremos os primeiros passos para você e sua família começarem a lidar melhor com o dinheiro. Acompanhe!
Anote todos os gastos
Qualquer planejamento financeiro deve começar com o registro das receitas e despesas. Com famílias, isso não é diferente.
Vocês devem definir um método de anotar tudo o que é recebido e gasto — inclusive as pequenas coisas, como um cafezinho na padaria ou uma bala na lanchonete. Dá para usar planilhas online, aplicativos de smartphone ou até mesmo o bom e velho método do papel e caneta, marcando tudo em um caderno.
Tenha em mente, porém, que o jeito de anotar deve levar em conta a facilidade e a praticidade: se for muito difícil, complicado ou cansativo, a preguiça e a desorganização podem se tornar perigosas inimigas desse hábito.
Categorize as despesas
Além de anotar todas as movimentações financeiras feitas pela família, vocês também precisam classificar os gastos em categorias.
Resumidamente, podemos dizer que toda despesa pode ser vista como essencial ou supérflua. Essa classificação, porém, pode ser mais detalhada e incluir que tipo de gasto é aquele: alimentação, educação, roupas, móveis e eletrodomésticos, despesas com o carro, impostos, lazer e assim por diante.
Você e sua família devem definir as categorias a serem utilizadas. Lembre-se: ter poucas opções de classificação pode resultar em uma análise superficial e insuficiente, ao passo que ter muitas pode deixar excessivamente complexa a tarefa de verificar para onde o dinheiro está indo.
Analise o resultado
Depois de fazer os passos acima e registrar os gastos por no mínimo um mês, é hora de ver de onde o dinheiro está vindo e para onde ele está indo.
Faça uma análise para identificar as maiores receitas e despesas e verificar em quais categorias os gastos estão concentrados. Também é preciso separar quais são fixos (assinaturas, mensalidades de escola, prestações de financiamentos, entre outros) e quais variam de um mês para outro (contas de consumo, gastos com supermercado, etc.).
Essa prática é a base para as próximas etapas do planejamento financeiro familiar, que visam definir quais são as mudanças necessárias para um uso mais racional e inteligente do dinheiro. E isso começa com a análise do padrão de vida que você tem na sua casa.
Defina um padrão de vida
Todo gasto pode ser encarado como essencial ou supérfluo. Como você pode imaginar, essenciais são todas as despesas necessárias para manter as condições básicas para a sobrevivência da sua família, como alimentação, saúde e moradia. Supérfluos, por outro lado, são os gastos para sustentar desejos e satisfações, como lazer, diversão e algumas compras não emergenciais.
Também é preciso ressaltar que gastos fixos são regulares, mas não inalteráveis: é possível trocar ou cancelar a TV a cabo ou o plano de celular, por exemplo.
Essa divisão nem sempre é fácil, já que há gastos que têm um pouco de cada um dos aspectos. Você e sua família certamente precisam de roupas, mas é dispensável gastar em demasia e em itens caros ou de marca; hoje em dia, ter celular é uma necessidade, mas nem sempre é preciso possuir o modelo do ano, o que também vale para outros eletrônicos; e assim sucessivamente.
O ideal é definir o que realmente é necessário, o que pode ser mantido e quais gastos devem ser cortados. Estes são alguns questionamentos para você repensar seu padrão de vida:
- Sua família precisa mesmo do seu pacote atual de TV a cabo? Vocês assistem a todos aqueles canais?
- O seu plano vigente de celular é de fato necessário? Não há opções melhores na sua própria operadora ou ofertas mais vantajosas nas concorrentes? Um plano pré-pago não é uma opção?
- Há como substituir produtos de alimentação por similares de marcas mais baratas?
Quite todas as dívidas existentes
As dívidas são um fator preocupante para a estabilidade financeira de sua família. Elas engolem uma parte considerável do que as pessoas da sua casa ganham, e os altos juros não são revertidos em patrimônio. Por isso, quitar os débitos é essencial para garantir mais tranquilidade para todos.
Abaixo, elencamos algumas medidas para resolver esse problema.
Liste todas as suas dívidas
Se você está muito endividado, é provável que nem saiba mais ao certo o que está pagando. É hora de parar e analisar a situação. Liste tudo o que você deve e para quem você deve. Coloque nessa lista os valores de cada débito, incluindo os juros.
Pague primeiro as dívidas com juros mais altos
Agora que você tem uma boa noção da situação, faça um planejamento para eliminar primeiro as dívidas com juros mais elevados. Juros altos são um desperdício de dinheiro: eles trucidam seu capital sem oferecer nada em troca.
Troque suas dívidas de juros altos por opções com juros menores
Uma boa maneira de eliminar as dívidas que cobram taxas mais altas é quitá-las recorrendo a um novo empréstimo com juros menores.
Você pode trocar as dívidas no cartão de crédito e no cheque especial, que cobram porcentagens exorbitantes, por opções mais baratas, como o crédito consignado ou um empréstimo com garantia de imóvel — falaremos mais adiante sobre essa última opção.
Renegocie suas dívidas
Se sua situação está muito complicada e recorrer a um empréstimo não é viável, uma boa opção é tentar renegociar suas dívidas.
Como você quer pagar o que deve e o credor quer receber o dinheiro, buscar um acordo é uma alternativa que vai ao encontro dos interesses de ambas as partes. Veja o quanto você realmente pode pagar mensalmente e vá preparado para a negociação, já levando consigo uma proposta.
Tente pagar à vista
Para se livrar das dívidas, novos hábitos são necessários. Por exemplo, evitar compras parceladas. Essa prática faz com que você e sua família não percebam o quanto estão efetivamente gastando. Como o dinheiro não "some" da conta, você fica com a falsa sensação de que aquele gasto não aconteceu. Por isso, as compras parceladas comprometem o orçamento dos meses futuros, tornando difícil reduzir os gastos no curto prazo.
Por isso, prefira pagar à vista, se for possível usando dinheiro. Além de poder controlar melhor as suas despesas — nada como o efeito psicológico de uma carteira vazia! —, ainda dá para conseguir descontos ao pagar de imediato.
Reavalie todos os gastos diários
Lembra quando dissemos que a sua família deve anotar até mesmo os menores gastos? Parece preciosismo, mas não é: pequenas despesas diárias têm um impacto considerável no fim do mês.
E isso vai além: ao longo de anos, essas besteirinhas representam um gasto enorme de dinheiro que, se investido, poderia refletir um acréscimo relevante no patrimônio. Pode ser a diferença entre ter ou não ter uma boa aposentadoria e um futuro confortável para seus filhos.
Um bom jeito de ter noção do impacto dessas pequenas compras é a chamada “regra dos 10 mil”. É simples: pegue um gasto diário qualquer e multiplique aquele número por 10.000 — o resultado é uma estimativa da quantidade de dinheiro gasto ao longo de 20 anos.
Se você toma um cafezinho na padaria todo dia e paga R$ 5 nele, terá deixado de economizar R$ 50 mil ao longo de duas décadas. Uma sobremesa de R$ 7 todo dia? R$ 70 mil em 20 anos!
É uma quantia que pode fazer a diferença, certo? Por isso, repense se esses pequenos gastos valem a pena. Aqui vão algumas alternativas para economizar diariamente:
- cozinhe em casa e leve seu próprio almoço para o trabalho;
- troque o carro por carona ou transporte público;
- corte o café da manhã na padaria ou a sobremesa depois do almoço.
Além disso, é importante definir um limite diário de gastos para todos os integrantes da família, de acordo com as necessidades de cada um.
Esse limite precisa ter alguma flexibilidade, pois imprevistos acontecem: você pode precisar pegar um táxi porque seu carro quebrou ou tomar um lanche porque teve que ficar até mais tarde no trabalho. Entretanto, é bom ter esse número como uma referência, para evitar gastos descontrolados.
Elabore um orçamento doméstico a ser seguido
Agora que você já registrou suas despesas, analisou e classificou seus gastos e identificou aqueles que podem ser cortados, chegou a hora de elaborar um orçamento doméstico.
Ele funciona como uma alocação prévia de recursos, definindo antecipadamente para onde deve ir cada parte da renda da família. É importante segui-lo e acompanhá-lo ao longo do mês e analisar o que efetivamente foi feito ao final do período.
A seguir, daremos algumas dicas para fazer o seu orçamento doméstico.
Use a regra dos 50-30-20
Um dos modos mais consagrados de fazer a alocação prévia de recursos em um orçamento é a chamada regra dos 50-30-20. Ela diz que 50% do que você ganha deve ir para gastos essenciais, 30% para gastos supérfluos e 20% para melhorar a situação financeira.
Claro, as porcentagens não precisam ser exatamente essas, mas é um bom ponto de partida para você distribuir o que ganha.
Assim, metade da renda deve ser usada em alimentação, saúde, moradia, transporte e educação. É o que não pode faltar para você e seus familiares. Mesmo sendo essenciais, é possível controlar alguns desses gastos. Veja algumas formas:
- troque a ida semanal ao mercado por uma compra mensal em um atacadista — assim, você consegue pagar mais barato em vários produtos;
- antes de sair de casa, anote o que você realmente precisa comprar, pois isso evita gastos desnecessários;
- pesquise preços;
- procure promoções e descontos e tente negociar ao pagar à vista;
- avalie se não há como economizar nas contas de água e luz: banhos demorados, itens que ficam na tomada sem necessidade, uso excessivo de ar-condicionado, entre outros.
O teto de gastos em itens dispensáveis e objetos de desejo — como viagens, restaurantes e compras não emergenciais — é 30% da renda. É aqui que você deve ter o maior controle possível. Se sua situação financeira estiver muito ruim, estabeleça uma porcentagem menor para esse tipo de despesa.
Por fim, o restante do dinheiro deve ser usado para as questões financeiras. Se vocês têm dívidas, use essa parte do orçamento para pagar as prestações e saldar os débitos, como explicamos. Se possível, adiante a quitação de parcelas: assim, dá para conseguir desconto no pagamento de juros e economizar uma boa quantia.
Esses 20% também devem ser usados para garantir a estabilidade financeira da família em longo prazo, com a criação de um fundo de emergência e a aplicação em investimentos para gerar uma renda passiva em médio e longo prazo. Falaremos mais adiante sobre esses dois assuntos.
Crie metas coletivas de economia
Uma das principais diferenças entre fazer um orçamento pessoal e fazer um orçamento familiar é que o segundo, obviamente, envolve mais pessoas. Por isso, você e sua família devem tratar do assunto de forma honesta, aberta e sincera — isso contribui, inclusive, para a educação financeira de seus filhos.
Além disso, é preciso manter os canais de diálogo sempre abertos para ouvir as sugestões de todos. Esse processo deve ser feito com o mínimo de desgaste nas relações entre vocês.
Uma boa ideia para fazer sua família se engajar no planejamento financeiro é criar metas de economia com recompensas para todos que contribuírem. Por exemplo, vocês podem combinar que, caso consigam atingir uma redução de 30% nas despesas totais, todos ganharão uma viagem nas próximas férias usando um pouco do dinheiro que deixou de ser gasto.
Procure formas de aumentar a renda
Às vezes, mesmo economizando em diversos aspectos, não é possível fazer com que os gastos sejam menores que os ganhos. Vocês podem, então, recorrer a fontes alternativas de renda: trabalhar como freelancer no fim de semana, fazer horas extras no emprego ou vender itens que estão encostados em casa.
Fique, também, atento ao mercado e às oportunidades. Uma vaga de emprego com salário maior pode aparecer quando você menos espera.
Faça um fundo de emergência
Um dos objetivos que precisam ser traçados no planejamento financeiro familiar é a criação de um fundo de emergência.
Essa quantia deve ser suficiente para sustentar a casa por um período de alguns meses. Há quem diga entre três a seis meses, enquanto outros definem oito ou nove; isso vai depender de quantas pessoas contribuem para a renda familiar, da estabilidade que cada um tem em seu emprego, de como estão indo os negócios, entre outros fatores.
Esse dinheiro deve estar aplicado em algum investimento de risco muito baixo que permita o resgate imediato, como um CDB (Certificado de Depósito Bancário) de liquidez diária, por exemplo.
Assim, você garante o poder de compra do investimento, bem como sua disponibilidade imediata em caso de urgência, como a perda do emprego, a necessidade de adquirir remédios para uma doença ou um conserto emergencial na casa.
Com essa providência, você escapa da necessidade de recorrer a empréstimos urgentes — que acabam sendo mais caros, já que você não terá tempo para pesquisar taxas e comparar opções. Mas é importante manter esse fundo apenas para situações extremas: nada de usá-lo para compras!
Invista no futuro
Além de criar uma reserva para ser usada em casos excepcionais, o planejamento financeiro da sua família deve prever um investimento a ser feito com foco em rentabilidade. Essa é uma boa forma de criar uma renda passiva, isto é, de ganhar dinheiro sem precisar trabalhar mais.
Economizando e aplicando um pouco todo mês, dentro de alguns anos você consegue uma quantia considerável e um bom rendimento mensal. Isso é possível graças aos juros compostos: o dinheiro que você investe rende juros, que continuam aplicados e geram mais juros.
Você também não precisa expor seu patrimônio a riscos de mercado, como é o caso dos investimentos na Bolsa de Valores, para conseguir uma boa rentabilidade.
É possível encontrar aplicações de Renda Fixa, como os já citados CDBs e também as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) com vencimentos mais longos, que pagam boas remunerações.
Além disso, esse tipo de investimento conta com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre aplicações de até R$ 250 mil caso o banco que emitiu o título passe por dificuldades financeiras.
Use o crédito de forma inteligente
O uso excessivo, sem critério e desinformado do crédito leva muita gente a se enrolar em uma bola de neve de dívidas. O trauma é tão grande que essas pessoas passam a rejeitar completamente esse tipo de recurso. No entanto, demonizar os empréstimos é tão errado quanto recorrer a eles sem planejamento.
É possível, sim, usar o crédito de forma consciente, com fins específicos e pagando taxas pequenas. Um bom exemplo disso é o crédito com garantia de imóvel.
Nesse tipo de operação financeira, também conhecida como hipoteca ou home equity, o cliente toma dinheiro emprestado e apresenta como garantia de pagamento um imóvel que esteja quitado e em seu nome.
As grandes vantagens dessa modalidade são o longo prazo para efetuar o pagamento, podendo chegar a até 15 anos, e as taxas de juros bem mais baixas que as de outros tipos de crédito, como o empréstimo pessoal.
Assim, se você tem uma casa, um apartamento, um escritório comercial, é possível ter acesso a uma quantia considerável para abrir ou ampliar seu próprio negócio ou para pagar um aprimoramento profissional, como um curso de especialização ou uma pós-graduação.
Dessa forma, você pode ter um aumento na renda que justifique e até mesmo supere os juros pagos. É uma forma bastante inteligente de usar o crédito.
Também dá para usar o crédito com garantia de imóvel para quitar suas dívidas atuais, substituindo todas elas e seus altos juros por um financiamento mais longo e com taxas menores.
Agora você já sabe como fazer seu planejamento financeiro familiar. Essa tarefa pode ser um pouco trabalhosa no início, já que no fundo se trata de adquirir novos hábitos. Entretanto, seguindo esses passos, temos certeza de que você e sua família terão uma vida mais tranquila e confortável e menos suscetível a imprevistos e a oscilações da economia.
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