Você já deve ter lido em jornais ou visto na TV que o governo elevou ou abaixou a taxa Selic. No noticiário, a explicação não vai muito além de chamar esse número de “taxa básica de juros”.
Hoje você vai descobrir o que realmente é essa taxa, como ela funciona e quais são as consequências de seus ajustes para a economia como um todo e também para os investimentos.
Antes de explicar o que é a taxa Selic, é preciso falar um pouco sobre como os bancos e o governo funcionam.
Os impostos são a principal receita do governo, mas eles não são suficientes para cobrir todas as despesas. Por esse motivo, o Tesouro Nacional emite títulos públicos para conseguir mais recursos.
Os bancos são os grandes compradores desses títulos, que ficam registrados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, o Selic, de acesso exclusivo a instituições financeiras.
Paralelamente a isso, os bancos são obrigados a manter uma porcentagem de seus depósitos no Banco Central, como forma de controlar a quantidade de dinheiro circulando na economia.
Um banco pode chegar ao final do dia com mais dinheiro ou menos dinheiro no BC do que o exigido pela lei, o que demanda que ele faça ajustes. Para contornar isso, os bancos fornecem empréstimos uns aos outros.
Essas operações são de curtíssimo prazo, sendo quitadas em menos de 24 horas. Elas são lastreadas pelos títulos públicos comprados pelos bancos, isto é, os bancos apresentam esses títulos como garantia de pagamento.
Como em todo empréstimo, também há cobrança de juros nessas operações financeiras. A média ponderada dessas taxas resulta na taxa Selic Over, que é a taxa básica de juros efetivamente praticada.
A taxa Selic que você vê nos jornais é, na verdade, uma meta estipulada pelo Copom — veremos mais sobre esse órgão adiante. Ao longo do dia, devido à interferência do Banco Central — que coloca ou retira dinheiro de circulação —, a taxa Selic Over tende a se aproximar da meta.
A taxa Selic é determinada pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, que se reúne a cada 45 dias para estabelecer uma nova meta, de acordo com a situação econômica do país.
Essa taxa serve de referência para praticamente todas as outras no mercado de crédito. Se um banco precisa pagar muito caro para obter dinheiro, ele vai repassar o custo quando for emprestar essa quantia para você.
O contrário também é verdadeiro: quanto menor a taxa Selic, mais barato os bancos podem cobrar pelo crédito para empresas e consumidores.
Essa relação tem impacto direto na economia e pode ser usada tanto para estimular a atividade econômica quanto para controlar a inflação, como veremos a seguir.
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Ao subir a taxa Selic, o governo torna o crédito mais caro para todos. Assim, fica mais difícil fazer um financiamento ou um empréstimo, o que leva muita gente a adiar suas compras. Com menos pessoas gastando, a demanda cai e os preços também, fazendo a inflação recuar.
Já em situações de inflação controlada e recessão, o governo reduz a taxa Selic para deixar o crédito mais barato e, assim, aumentar a quantidade de dinheiro em circulação, com o objetivo de estimular a atividade econômica e fazer a economia crescer.
Hoje, em 2020, estamos vivendo no Brasil a segunda situação. O Copom já reduziu a taxa Selic de 2,25% para 2% ao ano, e provavelmente mais cortes virão por aí, como medida para combater o alto desemprego e os números baixos do crescimento econômico.
O impacto econômico da taxa Selic também repercute nos investimentos, principalmente os de Renda Fixa, aqueles que não dependem de oscilações de ações e dos humores do mercado.
Como exemplos de investimento de Renda Fixa, temos os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).
CDBs, LCIs e LCAs podem ser pós-fixados, prefixados ou atrelados a índices, e cada um responde de um jeito às mudanças na taxa Selic.
CDBs, LCIs e LCAs pós-fixados são aqueles cuja remuneração é definida durante o período em que o dinheiro fica aplicado. O mais comum é esses investimentos pagarem juros baseados em um percentual do CDI.
CDI é a sigla para Certificado de Depósito Interbancário, títulos privados que também podem ser usados como lastro para aqueles empréstimos de curto prazo entre bancos. A taxa do CDI é sempre bem próxima à taxa Selic.
Portanto, se um CDB pós-fixado paga 100% do CDI e a Selic cai de 13,25% para 12,25% ao ano, por exemplo, a remuneração dessa aplicação passa a ser menor a partir do momento da queda. O que foi pago previamente com base na taxa anterior não muda.
Investimentos prefixados são aqueles em que se sabe desde o momento da aplicação qual será o rendimento — um CDB prefixado pode pagar 10,80% ao ano, por exemplo.
Se você já tem uma aplicação prefixada, o rendimento que foi estabelecido no momento do investimento não é afetado por nenhuma alteração na taxa Selic. O percentual será sempre aquele combinado.
Entretanto, para quem ainda não investiu, é bom saber que as taxas prefixadas costumam acompanhar a previsão do mercado para a taxa Selic nos próximos meses.
Se os economistas estão apostando em uma queda, por exemplo, isso leva os bancos a anteciparem esse movimento e oferecerem taxas menores.
O ideal é acompanhar o noticiário e as previsões. Se a taxa prefixada que o banco oferece é maior que a previsão para a Selic, esse investimento pode ser um ótimo negócio.
Além de investimentos pós-fixados e prefixados, existem aqueles que acompanham algum índice de inflação, como o IPCA — Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o indicador de inflação aferido pelo IBGE. Nesses casos, a rentabilidade geralmente é um percentual fixo somado à variação do índice no período.
Exemplificando: imagine um CDB que paga o IPCA + 5% ao ano. Depois de um ano em que a inflação foi 4%, ele pagará 9% de juros sobre o valor investido. Se a inflação for de 7%, o investimento teria uma remuneração de 12%, e assim sucessivamente.
Nesse caso, as mudanças na taxa Selic não impactam diretamente o investimento, como nas aplicações pós-fixadas.
Mesmo assim, elas exercem uma influência indireta, já que a taxa básica de juros é usada pelo governo para aquecer a economia (o que pode causar avanço da inflação) ou para controlar a subida dos preços.
De qualquer forma, aplicações atreladas à inflação são úteis para proteger o poder de compra, uma vez que garantem que a inflação do período será reposta e acrescida de um rendimento real.
Isso torna esses investimentos muito interessantes, já que o Brasil tem um histórico de inflação desregulada. Em 2015, por exemplo, a inflação foi maior que o rendimento da Poupança!
Mesmo com essas observações, é importante lembrar que o Brasil tem uma das maiores taxas básicas de juros do mundo. Por isso, os investimentos de Renda Fixa garantem boas rentabilidades ao mesmo tempo em que oferecem segurança e previsibilidade.
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