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Mercado financeiro em foco: tarifas de Trump e tensão fiscal

Escrito por Sofisa Direto | 14/07/2025 13:18:16

Confira o resultado do cenário econômico nacional e internacional de 07 a 13 de julho, além da expectativa para a semana atual, por Roberto "Bob" Carline, estrategista-chefe do Banco Sofisa.

Boa leitura!

SEMANA DE 07/07/2025

Ambiente Local

A leitura dos indicadores econômicos voltou a sinalizar um arrefecimento da inflação no curto prazo. O IPCA de junho registrou alta de 0,24%, enquanto o IGP-DI apresentou deflação de 1,80%, impulsionada pela desaceleração dos preços no atacado. Já os dados de crescimento do setor de serviços e das vendas no varejo indicaram uma moderação da atividade.

A grande repercussão da semana no entanto veio após o presidente dos EUA, Donald Trump, oficializar a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil, com vigência a partir de 1º de agosto. Sob a ótica da balança comercial — superavitária para os EUA — a medida foi considerada desproporcional e surpreendeu os agentes econômicos, gerando reações imediatas nos mercados de câmbio, juros e ações. Os setores mais impactados devem ser o agronegócio e a siderurgia, enquanto o encarecimento de medicamentos importados pode pressionar o IPCA. Apesar do choque inicial, ainda é prematuro dimensionar os efeitos econômicos concretos, especialmente diante do risco de escalada no conflito comercial, uma vez que uma possível retaliação tende a recalibrar as expectativas adiante.

A percepção de risco medida pelo CDS5Y Brazil melhorou para 141 pts. O Ibovespa recuou (-3,02%) e atingiu 136.126. Dólar em alta, aos R$5,54. Os prêmios para LTN 2028 e NTN-B 2040 subiram, atingindo respectivamente 13,57% a.a e IPCA + 7,04% a.a.  

Temos até o dia 09 de julho:

Gráfico 01: Rentabilidade acumulada por perfil até 09/07/2025. A carteira conservadora mostra estabilidade, enquanto a agressiva oscila mais, com destaque para o desempenho acima do CDI.

Ambiente Internacional

No exterior, a semana foi marcada por protagonismo dos EUA. Além do anúncio de tarifas ao Brasil e Canadá, Trump indicou a abertura de investigações na Lei de Expansão do Comércio, sob o argumento de que determinadas importações estariam ameaçando a segurança nacional. A expectativa é de que o governo avance com a taxação, incluindo um aumento de 50% sobre o cobre. Apesar dos ruídos, o decreto que adiou as tarifas recíprocas — anteriormente previstas para 9 de julho — para 1º de agosto ajudou a aliviar parte da tensão nos mercados. Também tivemos a divulgação da ata do FOMC, que reforçou os pontos já destacados no comunicado anterior, com ênfase nas preocupações sobre pressões inflacionárias e na resiliência da atividade econômica. Em paralelo, os juros dos Treasuries de 30 anos voltaram a se aproximar do patamar de 5%, refletindo um ajuste nas expectativas e renovando os alertas quanto à sustentabilidade fiscal dos EUA.

Na Europa, a produção industrial da Alemanha surpreendeu positivamente, ao passo que os dados do PIB e da produção industrial do Reino Unido ficaram abaixo das expectativas, reforçando a possibilidade de corte de juros pelo BoE.

Na Ásia, a China anunciou barreiras comerciais à União Europeia, com foco em setores como o farmacêutico, em retaliação às tarifas impostas sobre veículos elétricos chineses. As medidas têm o potencial de impactar a inflação global e dificultar a condução da política monetária nas principais economias.

O Índice S&P 500 cede (-0,32%) aos 6.259 pts, VIX (Índice do medo) estável (+0,12%) para 16,40 pts. Já o Euro Stoxx 50 (+1,71%) e FTSE 100 (+1,34%). Índice DXY, sobe (+0,91%) para 97,86 pts. Petróleo (WTI) se eleva (+2,97%) aos US$ 67.62/barril.

O QUE OBSERVAR NA PRÓXIMA SEMANA?

Ambiente local

No Brasil, a agenda econômica da semana é mais enxuta, com destaque para a divulgação do IBC-Br e IGP-10. As projeções do Boletim Focus devem incorporar os efeitos da inflação de junho, bem como as possíveis projeções de impactos iniciais das tarifas anunciadas pelos EUA. Após uma sequência de quedas, o IPCA pode apresentar mudança de direção, diante dos novos vetores de pressão. Entre os fatores de risco estão: a escalada tarifária americana no âmbito do arcabouço MAGA, eventuais estímulos fiscais domésticos, a aplicação da bandeira vermelha nas tarifas de energia elétrica, além de choques externos que possam influenciar os preços internamente.

Entramos também na última semana de atividades no Congresso antes do recesso parlamentar, que se inicia em 18 de julho. O impasse institucional envolvendo o aumento do IOF continua em evidência e envolve os três Poderes da República. A expectativa do mercado está voltada para a audiência de conciliação agendada pelo STF para o dia 15 de julho, que poderá viabilizar uma solução. Nesse cenário, o decreto seria revogado, enquanto o Congresso aprovaria medidas voltadas à redução de gastos tributários, com o objetivo de reforçar o equilíbrio fiscal no curto e médio prazo. O desfecho das negociações tende a influenciar diretamente a percepção dos agentes econômicos sobre o quadro fiscal do país.

Por fim, reiteramos as oportunidades disponíveis por meio das nossas carteiras recomendadas. Em todos os perfis de investidor, registramos desempenho superior ao CDI no segundo trimestre, reflexo de uma gestão criteriosa, com foco em diversificação, controle de risco e consistência de resultados.

Ambiente Internacional

No exterior, a semana será marcada por uma agenda carregada de indicadores relevantes, que devem contribuir para refinar o cenário econômico nos EUA e influenciar as expectativas de cortes de juros ainda em 2025. Destaque para os dados de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) e seus núcleos, além da divulgação da prévia de confiança do consumidor da Universidade de Michigan — indicador antecedente que reflete o sentimento da população em relação à economia. Não esperamos grandes surpresas nos números, ainda assim, a volatilidade deve permanecer elevada nos mercados de renda fixa e variável, especialmente após a aprovação do pacote fiscal The One, Big, Beautiful Bill e as novas rodadas de tarifas que seguem gerando preocupações com a trajetória da dívida americana.

Na Zona do Euro, o foco estará na produção industrial e nos dados de inflação do bloco, além da continuidade do monitoramento da valorização do euro frente ao dólar. No Reino Unido, os números do CPI e emprego contribuirão para calibrar as expectativas quanto à retomada do ciclo de flexibilização monetária. Atualmente, o mercado projeta um corte de 25 pontos-base na reunião agendada para 7 de agosto.

Na Ásia, as atenções se voltam para a China, com a divulgação do PIB, produção industrial, balança comercial e preços de imóveis. Na Índia, o destaque é o índice de inflação ao consumidor, que tem apresentado tendência de queda — influenciada pelas previsões de chuvas de monções acima da média, fator essencial para o desempenho agrícola e que pode favorecer a redução dos preços de alimentos. Esse cenário fortalece a expectativa de cortes adicionais na taxa básica de juros, atualmente em 5,50% ao ano, como estímulo à atividade econômica.

SIMULAÇÃO DE RETORNOS

Tabela 01: Tabela mostra os retornos absolutos e em % do CDI para cada perfil de investidor, além dos benchmarks CDI, Ibovespa e IHFA até julho de 2025. 

Nossos resultados acumulados (de 31 de outubro de 2023 até 09 de julho de 2025) seguiram estáveis nos perfis conservador e moderado. Já os perfis arrojado e agressivo apresentaram maior volatilidade em função da exposição à renda variável por meio do fundo AZ Quest Top LB. Apesar das oscilações recentes, reforçamos que, para investidores com perfil adequado e visão estratégica de longo prazo, o fundo segue como um dos principais destaques da nossa grade recomendada, com capacidade de capturar oportunidades mesmo em cenários adversos — inclusive via posições vendidas durante períodos de baixa no Ibovespa.

Gráfico 02: Evolução das taxas de juros projetadas entre 30/12/2024 e 10/07/2025, incluindo datas das últimas decisões do COPOM.

Gráfico 03: Evolução do Ibovespa entre 12/12/2024 e 12/07/2025, com variações associadas às decisões do COPOM nos cinco encontros mais recentes.

Na renda fixa (Gráfico – Comportamento dos Juros), observamos reprecificação das curvas, refletindo o ajuste das expectativas frente às medidas tarifárias anunciadas pelos EUA contra o Brasil. Todos os vértices da curva apresentaram alta, incorporando o impacto do enfraquecimento do real frente ao dólar e os potenciais efeitos inflacionários decorrentes do aumento das alíquotas. Nesse ambiente, o risco de crédito corporativo ganha ainda mais relevância. Em nossa avaliação, os maiores riscos estão ligados a operações de captação voltadas à reestruturação de passivos, e não a investimentos produtivos o que pode comprometer ainda mais a saúde financeira de parte das empresas.

Na renda variável (Gráfico – Evolução do Ibovespa), o mercado iniciou a semana com realização de lucros, movimento que se intensificou após o anúncio das tarifas impostas pelos EUA às importações brasileiras. As perdas, no entanto, foram parcialmente compensadas pela valorização superior a 3% do minério de ferro, que sustenta os papéis de empresas exportadoras. Com isso, investidores passaram a reavaliar o papel da China como potencial substituto parcial nas exportações brasileiras impactadas. A escalada diplomática teve início após a cúpula dos BRICS, ocasião em que o presidente Trump acusou o bloco de tentar enfraquecer os EUA e substituir o dólar como padrão global, fato que agravou o tom político direcionado ao Brasil. Diante deste cenário potencialmente mais turbulento, a continuidade das tensões comerciais pode pressionar ainda mais os ativos locais. Por outro lado, abre-se uma janela de oportunidades para aquisição de ativos de qualidade a preços mais atrativos. Nesse contexto, o fundo AZ Quest Top Long Biased mantém-se como uma alternativa robusta por sua flexibilidade estratégica, permitindo a geração de alfa mesmo em momentos de alta volatilidade. Ainda assim, reforçamos a importância de uma exposição equilibrada e diversificada nas demais classes presentes em nossas carteiras recomendadas, garantindo maior resiliência frente à incerteza do cenário atual.