Mercado financeiro em foco: Selic no radar e risco fiscal
por: Sofisa Direto
Análises Financeiras
Publicado em: jun 9, 2025
Atualizado em: jun 9, 2025
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Confira o resultado do cenário econômico nacional e internacional de 02 a 08 de junho, além da expectativa para a semana atual, por Roberto "Bob" Carline, estrategista-chefe do Banco Sofisa. Boa leitura!
SEMANA DE 09/06/2025
Ambiente Local
A semana teve início com a divulgação do relatório da agência Moody’s, que manteve a nota de crédito do Brasil, mas rebaixou a perspectiva de “positiva” para “estável”, destacando fragilidades estruturais persistentes — movimento que já havíamos antecipado desde a elevação do rating em outubro do ano passado. No campo dos indicadores econômicos, tivemos a divulgação da produção industrial com resultado muito abaixo das expectativas, enquanto IGP-DI apontou para esfriamento da inflação. Adicionalmente, o anúncio da Petrobras de redução de 5,6% no preço da gasolina deve contribuir para a continuidade da desaceleração dos preços no curto prazo.
Em Brasília, as discussões em torno das novas regras do IOF continuam no radar. Destaque para o adiamento da cobrança do imposto sobre aportes superiores a R$50 mil em planos VGBL. Além disso, o Ministro da Fazenda sinalizou que a equipe econômica apresentará um pacote de alternativas ao aumento do IOF em reunião com lideranças parlamentares no domingo (8). O gesto foi bem recebido pelo mercado, mas caso as novas propostas não sejam bem acolhidas, a volatilidade tende a permanecer elevada.
A percepção de risco medida pelo CDS5Y Brazil estável em 160 pts, o Ibovespa recuou para 136.139 pts. Dólar cede e encerra a semana aos R$5,56. Os prêmios para LTN 2028 e
NTN-B 2040 subiram, atingindo respectivamente 13,83% a.a e IPCA+7,02% a.a.
Temos até o dia 04 de junho:
Legenda: Rentabilidade Acumulada por Perfil de Investimento – Junho2025.
Ambiente Internacional
Nos EUA, os indicadores econômicos voltaram a apresentar sinais mistos. De um lado, o Payroll e o relatório Jolts, que medem a abertura de vagas de emprego e a rotatividade da mão de obra, superaram as expectativas. Por outro, dados como o Adp (variação de empregos privados) e as expectativas econômicas contidas no Livro Bege apontaram para um esfriamento da atividade. Esse cenário reacendeu as pressões de Trump sobre o Fed por uma redução nas taxas de juros. No campo político, o presidente americano voltou a gerar volatilidade ao duplicar as tarifas de importação sobre aço e alumínio, de 25% para 50%, além de romper publicamente as relações com Elon Musk (ex-líder do Departamento de Eficiência Governamental). Em paralelo, as preocupações com a trajetória fiscal americana permanecem no radar, especialmente com o pacote de cortes de impostos já aprovado na Câmara e agora em análise no Senado.
Na Zona do Euro, a combinação de projeções do CPI abaixo do esperado com PMIs, em linha com o consenso, consolidou a decisão do Banco Central Europeu de reduzir a taxa de juros para 2% ao ano. Em seu comunicado, o BCE apontou o processo de desinflação como principal fator para a flexibilização monetária. Na Ásia, o destaque ficou com a China, onde o PMI industrial entrou no território de contração, frustrando as expectativas. Já no Japão, os gastos domésticos abaixo do consenso aliviam as pressões sobre o BoJ e reforçam nossa tese de que uma nova elevação de juros não deva ocorrer antes do segundo semestre deste ano.
O Índice S&P 500 sobe (+1,76%) aos 6.000 pts, o VIX (Índice do medo) recua (-9,48%) para 16,81 pts. Já o Euro Stoxx 50 (+1,74%) e FTSE 100 (+0,75%). Índice DXY, cai (-0,21%) para 99,19 pts. Petróleo (WTI) em alta (+6,09%) aos US$ 63.96/barril.
O QUE OBSERVAR NA PRÓXIMA SEMANA?
Ambiente local
À medida que nos aproximamos da próxima decisão de política monetária no país, a divulgação dos indicadores econômicos assume papel ainda mais relevante. Na semana que se inicia, os dados de atividade — representados pelo desempenho do setor de serviços e das vendas no varejo — devem oferecer uma leitura mais precisa sobre o ritmo do consumo no país. Além disso, a divulgação do IPCA referente ao mês de maio tende a confirmar a desaceleração dos preços já antecipada pelo IPCA-15. Entretanto, vale destacar que os sinais de melhora no curto prazo não eliminam os desafios estruturais da economia brasileira. Sob a ótica do hiato do produto, o nível de produção atual segue acima do potencial, o que pode gerar pressões inflacionárias no horizonte relevante, exigindo atenção redobrada por parte do BC.
Nesse contexto, é fundamental considerar também a dinâmica do mercado de trabalho. A taxa de desemprego continua em queda e em patamares historicamente baixos, o que deve sustentar o crescimento dos salários reais. Dessa forma, mesmo com a estabilidade recente do câmbio, o risco de aceleração inflacionária, sobretudo no setor de serviços, permanece no radar. Tal cenário pode desafiar as projeções atuais do Boletim Focus, que apontam para uma inflação de 5,46% em 2025. Além disso, iniciativas que estimulem o crédito direcionado ou impulsos fiscais seguem como variáveis relevantes e podem influenciar as expectativas de juros tanto no curto quanto no longo prazo.
Por fim, reforçamos que o ambiente atual — marcado por incertezas domésticas e externas — exige resiliência e forte disciplina na gestão de riscos, ao mesmo tempo em que abre espaço para capturar oportunidades.
Ambiente Internacional
No exterior, as atenções mais uma vez se voltam aos indicadores econômicos que antecedem a decisão de política monetária nos Estados Unidos, marcada para o dia 18. A agenda dessa semana no país inclui os dados de confiança do consumidor da Universidade de Michigan, Inflação ao Produtor, Inflação ao Consumidor e seu núcleo (que exclui os itens mais sensíveis). Mais do que os resultados, os agentes econômicos estarão alertas ao comunicado da autoridade monetária. Além disso, seguimos atentos aos desdobramentos da guerra tarifária e monitorando seus impactos sobre os ativos globais.
Na Europa, o Reino Unido divulga o resultado do PIB, Produção Industrial e Balança Comercial, enquanto os dados de inflação ao consumidor serão destaques nos países que compõem a Zona do Euro. Em paralelo, como já temos destacado, a reorganização geopolítica tem provocado a busca do velho continente por um maior protagonismo global, assim como celeridade em novas alianças. Nesse contexto, os agentes econômicos continuam observando com atenção os desdobramentos das negociações comerciais com outras regiões, em especial Mercosul. Do ponto de vista econômico, entendemos que o mercado consumidor do bloco tem um potencial de ampliação em 500 milhões de indivíduos, diminuindo a dependência dos EUA. Por outro lado, apesar da expectativa de que o acordo seja ratificado ainda esse ano, a resistência de potências importantes como a França tendem a continuar dificultando as negociações.
Na Ásia, o foco dos investidores estará no resultado do PIB do Japão, assim como nos números de Produção Industrial no país. Enquanto na China, a agenda inclui Inflação ao Consumidor e Balança Comercial, ao passo que ainda é esperada uma evolução das conversas com Donald Trump.
SIMULAÇÃO DE RETORNOS
Legenda: Desempenho de Perfis de Investimento e Benchmarks – Junho/2025.
Nossos resultados acumulados (de 31 de outubro de 2023 até 04 de junho de 2025) se mantiveram estáveis, mesmo diante da volatilidade observada ao longo da semana. A recente abertura da curva de juros, combinada com um movimento semelhante nos spreads de crédito, impactaram negativamente a performance da nossa estratégia de renda fixa com exposição a marcação a mercado, representada pelo fundo Arx Elbrus. No mercado acionário, o ambiente também refletiu maior pessimismo. Ainda assim, destacamos a resiliência da estratégia Az Quest Top Long Biased, que segue como destaque neste início de mês.
Legenda: Comportamento dos Juros e Evolução do Ibovespa até Junho/2025.
Sob diferentes métricas de juros neutro, parece haver consenso de que a taxa real de juros atual encontra-se em patamar elevado e claramente contracionista. Especialmente quando comparado ao juro neutro de 5% utilizado pelo modelo do Banco Central. Contudo, na nossa visão, ainda existem dúvidas se o atual nível de aperto monetário é suficientemente elevado para conduzir a inflação de volta à meta de 3% no horizonte relevante. Isso porque, temos atualmente o hiato do produto em nível mais robusto do que se estimava, aliado a uma revisão da taxa de juros neutra por parte de alguns agentes econômicos (no intervalo de 6% a 7%). A principal repercussão dessa diferença pode se traduzir em impactos inflacionários, de modo que dificulte a eficácia da atuação da autoridade monetária. Nesse contexto, as opções do Copom monitoradas pela B3 apontaram uma reversão de probabilidade de manutenção da Selic em 14,75% na reunião deste mês. No dia 28/05 a probabilidade de fim do ciclo de cortes era estimada em 83%, no fechamento do dia 06/06 essa estimativa já havia recuado para 33%, enquanto as chances de elevação de 0,25 bps saltaram para 62%.
Diante desse cenário, avaliamos que nossas carteiras estão preparadas para diferentes conjunturas nos curto, médio e longo prazo. Em caso de desobstrução — ainda que parcial — do canal de transmissão da política monetária para a economia real, ou mesmo diante de fatores exógenos como recuo nos preços do petróleo e consequente alívio nas expectativas inflacionárias, a parcela da carteira exposta à variação de mercado tende a se beneficiar. Por outro lado, caso o cenário demande manutenção ou até elevação da taxa Selic, nosso bloco de proteção atrelado ao CDI seguirá preservando o patrimônio dos investidores, com baixo risco de crédito.
A diversificação segue sendo um elemento fundamental neste momento de elevada incerteza no cenário global, até que haja maior clareza quanto à trajetória da economia, tanto no ambiente doméstico quanto internacional.
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