Confira o resultado do cenário econômico nacional e internacional de 11 a 17 de agosto, além da expectativa para a semana atual, por Roberto "Bob" Carline, estrategista-chefe do Banco Sofisa.
Boa leitura!
A semana foi marcada por sentimentos mistos. A divulgação dos indicadores econômicos, com destaque para os dados de inflação e vendas no varejo, reforçou que os canais de transmissão da política monetária começam a se refletir na economia real. Esses números, aliados à crescente expectativa de cortes na taxa de Fed Funds nos EUA na reunião de setembro e aos bons resultados corporativos, contribuíram para arrefecer as expectativas de juros, elevando o apetite ao risco na primeira quinzena de agosto.
Paralelamente, os desdobramentos da recente aplicação de tarifas de importação pelo presidente Trump também repercutiram nos mercados. A busca por novas parcerias comerciais, por meio de roadshows e maior atuação de lobby empresarial se intensificou e tende a mitigar parte dos impactos no médio prazo. Além disso, o Executivo anunciou a MP Brasil Soberano, que prevê uma linha de crédito de R$ 30 bilhões como apoio às empresas exportadoras mais afetadas. A medida foi bem recebida, mas levantou preocupações com o já fragilizado arcabouço fiscal, dificultando as expectativas de uma recuperação sustentável.
A percepção de risco medida pelo CDS5Y Brazil melhorou para 134 pts. O Ibovespa em leve alta (+0,27%), atingindo 136.278. Dólar em queda, aos R$5,39. Os prêmios para LTN 2028 e NTN-B 2040 recuaram, atingindo respectivamente 13,17% a.a e IPCA + 6,98% a.a.
Temos até o dia 13 de agosto:
A divulgação dos indicadores de atividade e, especialmente, da inflação ao consumidor nos EUA foram bem recebidas, contribuindo para ampliar o apetite ao risco. Apesar das ameaças de boicote a produtos norte-americanos por países da Ásia, Europa e pelo vizinho Canadá, a ausência de surpresas negativas no CPI impulsionou o S&P 500 a registrar nova máxima histórica e pressionou o recuo nas curvas de juros. Esse movimento recolocou no radar a possibilidade de três cortes de juros nos EUA em 2025. Ainda assim, avaliamos que há certo exagero nessas projeções, uma vez que, quaisquer dados em sentido oposto até o próximo encontro do Fed, pode resultar em forte volatilidade nos mercados globais.
Na UE, os indicadores econômicos não trouxeram surpresas relevantes, mantendo a atenção dos agentes de mercado voltada à reunião entre Trump e Vladimir Putin. A possibilidade de um acordo contribuiu para a queda nos preços do petróleo, contudo a resolução do conflito é complexa, dado que os impasses sobre os territórios já ocupados pela Rússia na Ucrânia continuam a dificultar a negociação de paz.
Na Ásia, o destaque foi para a China, que prorrogou por mais 90 dias o prazo de negociação comercial com Trump. Já a Índia segue avaliando a redução das compras de petróleo russo como forma de minimizar o impacto das tarifas de importação impostas pelos EUA. No entanto, as pressões de Washington tendem, no longo prazo, a reforçar a busca do país por uma política externa mais alinhada a um cenário multipolar.
O Índice S&P 500 subiu (+0,96%) aos 6.450 pts, VIX (Índice do medo) estável (-0,07%) para 15,05 pts. O Euro Stoxx 50 em alta (+1,65%) e FTSE 100 (+0,47%). Índice DXY, cai (-0,42%) para 97,85 pts. Petróleo (WTI) recua (-0,81%) aos US$ 62.30/barril.
O QUE OBSERVAR NA PRÓXIMA SEMANA?
No Brasil, a agenda econômica começa com a divulgação do Boletim Focus, que tende a reforçar a tendência de arrefecimento das expectativas de inflação para 2025. O provável ajuste decorre da divulgação do último IPCA, somada à apreciação do real frente ao dólar — dinâmica que reflete o enfraquecimento global da moeda norte-americana. Nesse contexto, parte dos agentes de mercado já especula uma possível redução da Selic na reunião de dezembro deste ano, atualmente com 20% de probabilidade, segundo as opções de Copom. No entanto, seguimos avaliando que os dados disponíveis até o momento não sustentam essa tese. A prévia do PIB, medida pelo IBC-Br, e o IGP-DI completam a agenda.
Em paralelo, as relações diplomáticas e comerciais do Brasil seguem em pauta. Impactado pela aplicação de tarifas de importação pelos Estados Unidos, o Executivo tem buscado fortalecer o relacionamento com a China. As articulações com líderes do BRICS para coordenar uma resposta às pressões de Washington devem continuar sendo uma fonte relevante de ruídos, mantendo no radar a possibilidade de novas retaliações norte-americanas ao grupo.
Por fim, o parlamento tenta retomar a normalidade após mais uma semana conturbada em Brasília. Entre as prioridades, destaca-se a votação de temas fiscais, como a PEC 66 — que retira os precatórios do limite de gastos do arcabouço, abrindo espaço para um alívio fiscal no curto prazo, mas elevando as preocupações com a sustentabilidade estrutural. Já pautas como a isenção do I.R para contribuintes com renda de até R$ 5 mil devem continuar em evidência nas próximas semanas.
No exterior, a Europa estará sob os holofotes, com uma agenda econômica relevante que inclui: dados de inflação ao consumidor, projeção dos PMIs regionais e do bloco, balança comercial e PIB da Alemanha. Contudo, o grande destaque recairá sobre os desdobramentos da reunião entre Trump e Putin. Os agentes econômicos devem reagir tanto às expectativas de um possível acordo entre Rússia e Ucrânia, quanto aos efeitos secundários caso isso não se concretize. Nesse contexto, não está descartada uma retaliação dos EUA aos países que compram petróleo russo, incluindo Brasil e Índia — tema que segue como importante fonte de ruído e volatilidade para o mercado de petróleo e bolsas globais. No Reino Unido, destaque para os dados de inflação e atividade, amplamente monitorados devido à condução mais flexível da política monetária pelo Bank of England, que pode manter a inflação desancorada por um período prolongado.
Nos EUA, as atenções estarão voltadas principalmente para o simpósio de Jackson Hole e ata do Fomc. Ao mesmo tempo, os desdobramentos do arcabouço MAGA permanecem como fonte de ruídos, especialmente nos aspectos fiscal e inflacionário, mantendo no radar um possível cenário de estagflação adiante e influenciando as expectativas de política monetária do Fed para a reunião de 17 de setembro.
Na Ásia, além do acompanhamento das negociações comerciais entre EUA e China, no Japão serão divulgados os números da balança comercial e inflação ao consumidor. Este último será especialmente observado, já que o aumento persistente nos custos do arroz e de outros alimentos continua pressionando a condução de política monetária pelo BoJ.
SIMULAÇÃO DE RETORNOS
Nossos resultados acumulados (de 31 de outubro de 2023 até 13 de agosto de 2025) apresentaram forte desempenho na semana, impulsionado pelos fundos Arx Elbrus e AZ Quest Top LB. O recuo das expectativas de juros futuros, somado à divulgação de resultados corporativos acima do consenso, contribuiu para a valorização dos ativos de renda fixa indexados à inflação e para a recuperação da exposição em renda variável.
Gráfico 03: Evolução do Ibovespa entre dezembro de 2024 e agosto de 2025, destacando os impactos das últimas seis reuniões do COPOM sobre o índice
Na renda fixa (Gráfico – Comportamento dos Juros), as curvas de juros apresentaram nova retração. O movimento foi influenciado pela queda dos Treasuries nos EUA e reforçado pelas surpresas baixistas nas divulgações do IPCA e das vendas no varejo. As expectativas de redução dos juros e dos spreads de crédito contribuíram para impulsionar os resultados da nossa estratégia exposta à variação de mercado Arx Elbrus. O fundo acumula forte rentabilidade de 1,32% no mês (equivalente a 266% do CDI) e segue com trajetória positiva no ano, registrando retorno de 9,50% (equivalente a 114% do CDI). Ainda que correções pontuais possam ocorrer no curto prazo, mantemos visão construtiva para o produto.
Na renda variável (Gráfico – Evolução do Ibovespa), o índice apresentou recuperação e chegou a se aproximar novamente do patamar de 140 mil pontos, mas perdeu força e encerrou a sexta-feira praticamente estável. O maior apetite ao risco no início da semana foi sustentado pelo arrefecimento das expectativas inflacionárias e, consequentemente, pela queda dos juros futuros, aliado à divulgação de sólidos resultados corporativos. A resiliência no cenário microeconômico segue influenciada por um setor de serviços ainda aquecido, em um ambiente em que a política fiscal continua exercendo efeito de estímulo à demanda agregada no curto prazo. Assim, mantemos perspectivas positivas no longo prazo, mas com postura cautelosa nas recomendações.
Adicionalmente, vale destacar que fatores externos — especialmente relacionados ao arcabouço MAGA — continuam dificultando a construção de uma visão macroeconômica consistente de médio e longo prazo. A renovação da máxima histórica do índice S&P 500, mesmo em um contexto de elevada incerteza, parece subestimar os riscos associados às múltiplas frentes de atuação dos EUA. Nesse cenário, eventuais surpresas negativas, como um novo repique inflacionário, podem gerar intensa volatilidade nos mercados globais. Por isso, mantemos a visão de que as melhores oportunidades com relação risco-retorno permanecem, no momento, fora do território norte-americano.